Seja a inspiração que você precisa

Uma vez me perguntaram em uma entrevista: “Me conte um legado que você deixou – algo que tenha te deixado orgulhoso.”

Com o background de desenvolvedor, naquela ocasião, eu tinha milhares de razões para me orgulhar, afinal eu tinha desenvolvido milhares de linhas de código, resultando em produtos em funcionamento.

Mas, ao tentar responder àquela pergunta, eu não tinha visão, no meio daquele mar de coisas já feitas, de qual delas me inspirava pessoalmente de maneira mais notável. Eu não tinha prestado atenção cuidadosa a elas para poder destacar o valor daquelas contribuições prontamente.

Claro que isso não é um problema.

Contudo, ter passado por aquela entrevista (e ao mesmo tempo não ter passado, já que não fui aprovado), deu combustível para minhas reflexões.

Isso passou a ser uma fonte de reflexão contínua, e me faz me perguntar: “O que eu fiz hoje que é razão para orgulho? Como eu posso inspirar o MEU EU de amanhã?”

Isso transcende a vida profissional. Quando não trocamos o nosso poder físico ou cognitivo por dinheiro, mas buscamos derivar prazer daquilo que fazemos de outra forma, talvez por doar de nós em benefício de outros, parece que prestamos mais atenção ao evento, criando razão de orgulho instantânea.

E se nós formos o alvo colateral da aplicação de nossa força produtiva, O PRODUTO beneficiado pela dedicação daquele tempo, enriquecidos psicologicamente por termos uma razão de orgulho e satisfação adicional por termos realizado determinado trabalho?

Em um dia nosso cérebro consome cerca de 20 Watts de energia por dia. E se nós dedicássemos 3 Watts para refletir e nos enriquecer, garantindo um repertório de fontes de inspiração futuras para nós mesmos?

Não falo de task switching (troca de tarefas), mas de nos conectarmos de maneira ampla e plena com a atividade em questão. Quando a gente fala de mindfulnesss, buscamos o foco naquele momento, com cada detalhe de nossa interação com o mundo, para entendermos como nos sentimos. A minha proposta é a de nós prevermos como será a nossa interação com aquela ação, e depois refletirmos sobre o resultado delas de modo pessoal.

Isso se conecta, por exemplo, com os sistemas ágeis que ouvimos falar com frequência. Eles proporcionam ciclos curtos de reflexão e feedback. Quando pensamos no planejamento de uma SPRINT no Scrum, logo temos a retrospectiva, e esses rituais consomem de 5% a 15% do tempo da Sprint. Usando o modelo Lean Startup (Startup Enxuta), toda a construção é orientada a um aprendizado prático (que permite insights e ação).

E quando você está gerindo o seu tempo buscando entrar no estado de fluxo (Flow) e talvez usando técnicas de foco, parte desse tempo pode fazer parte da reflexão/criação de inspiração para o futuro. No caso da técnica Pomodoro, por exemplo, usamos 25 minutos para foco irrestrito. Depois, 20% desse tempo, ou seja, 5 minutos, são usados para uma pausa e relaxamento. Talvez pudéssemos usar 15% desses minutos de foco (cerca de 3 minutos) para nos conectar com a atividade e buscar a nossa fonte de inspiração.

Mas às vezes a gente não vai encontrar uma inspiração. Isso pode acontecer por alguns motivos: i) não sabemos o que estamos procurando, ou ii) a atividade está muito fragmentada.

Se não soubermos o que estamos procurando, podemos usar a nossa curiosidade como aliada para nos ajudar a encontrar, por exemplo, antes de uma atividade podemos antecipar a nossa missão pessoal de orgulho: “ao entregar essa user story eu vou ter me orgulhado de ter feito a melhor interface gráfica e entregar a mais fantástica experiência ao usuário do meu sistema”. Ou poderíamos ainda dizer: “eu vou ter me orgulhado, depois dessa reunião, de ter endereçado todas as dúvidas dos participantes e de ter falado de maneira confiante e inspiradora (para mim mesmo no futuro)”. Isso vai criar expectativa e, no final da ação podemos ver se conseguimos ser a fonte de inspiração que gostaríamos ou não. Esse é o momento de After-Action Review (Revisão Pós-Ação), ou Debriefing.

No caso de a atividade estar muito fragmentada, pode ser difícil conectá-la a um propósito maior. Uma linha de código em um software pode não fazer diferença PERCEPTÍVEL na experiência que o software entrega ao consumidor final, assim como um parafuso a mais em uma cadeira pode ser SÓ MAIS UM PARAFUSO. Contudo, sem essa linha ou sem esse parafuso, o resultado final poderia ser desastroso no produto final. Como você pode se orgulhar dessas pequenas contribuições? Pensando no propósito maior em que ela está inserida!

Depois que eu descobri a frase que melhor representa meu propósito pessoal neste momento, eu percebi que tentar definir propósitos em nossos contextos de trabalho ajuda bastante a ter um norte e nesse processo de auto-inspiração. Isso pode ser mais fácil quando trabalha em um produto que é diretamente usado por um consumidor. Se você é uma área-meio e não uma área-fim, você provavelmente vai precisar instigar as pessoas ao seu redor a ter uma declaração de propósito clara e compartilhada. Isso pode, inclusive, ser sua própria razão de orgulho, ajudar a encontrar um propósito compartilhado.

Então qual é a minha conclusão a respeito de um modelo de auto-inspiração? Segue um resumo:

  1. Reserve aproximadamente 15% do seu tempo para se inspirar consigo mesmo. Por exemplo, 10 minutos a cada uma hora.
  2. Ative a curiosidade: No momento pré-ação (ou auto-briefing), pergunte-se “e se?”, “o que eu vou fazer que vai criar uma fonte de orgulho e inspiração para meu EU DO FUTURO?” (Essa pré-reflexão pode fazer parte dos 15% do tempo reservado, por exemplo, 5 minutos).
  3. Aja. O momento de ação é fazer o que você já faz hoje. Se conecte com a atividade, mas saiba que no final dela, você terá um tempo para refletir. Se o período para agir for de uma hora, a sua ação deveria durar uns 50 minutos.
  4. Reflita. Esse é o momento da revisão pós-ação. Você já encontrou sua fonte de orgulho? Se não, identifique como isso se conecta com um propósito maior e pessoal ou profissional. Se o propósito maior não está claro, provavelmente você deve identificar O SEU PROPÓSITO PESSOAL, ou junto com seus colegas O PROPÓSITO DE SUA EQUIPE. Tente alinhar o seu propósito com o de sua equipe, ou identificar aspectos em que eles podem andar juntos.

Como eu me inspirei por este artigo

Encontrei algumas pequenas inspirações neste artigo.

Uma delas foi a animação fractal feita no Power Point. Foi um desafio pessoal que estabeleci para mim mesmo e que deu certo.

A outra foi na estruturação do método/framework. A cada interação que tenho com indivíduos da minha equipe ou fora dela, eu coleto um conjunto de frustrações ou êxitos. Notei que quando eu sigo esse framework, apesar de simples e óbvio, o resultado da discussão geralmente é positivo e inspirador para mim. Ter escrito esse artigo também me faz colocar em palavras os pensamentos desestruturados que surgem e perceber várias lacunas que posso tentar preencher em artigos futuros.

Todas as minhas reuniões com indivíduos, agendadas no calendário, possuem um ícone: ⚡. Isso me faz me lembrar de preciso estar conectado com aquela discussão de uma forma que eu consiga me inspirar e me energizar.

Referências

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