Já faz algum tempo que escrevi sobre como ideias impulsionam outras ideias a acontecer (veja aqui). Enquanto estive na como voluntário na Campus Party pela Universidade Federal do ABC (UFABC) em 2012, entrevistei Irene Tinagli, economista e na época , professora, e conselheira da ONU para assuntos econômicos e sociais, qualificada como uma das 200 pessoas capazes de mudar o mundo. Batemos um breve papo (ignorem o nervosismo ^^) sobre como os empreendedores podem usar suas ideias para fazer com que seus projetos possam ir para a frente. Hoje disserto um pouco sobre o tema.
O vídeo tem legenda disponível.
Embora a entrevista apresente muito do que eu já escrevi no post de 2011, acredito que conteúdo possa ser melhor desenvolvido. A seguir resumo a nossa conversa e agrego conhecimentos construídos a partir de artigos e materiais complementares.
Embora a entrevista tenha sido feita com o mundo empreendedor em mente, os conceitos aqui expostos podem ser levados a outras áreas da vida. Se você, assim como eu, faz algum trabalho voluntário, precisa interagir com várias pessoas, ou de fato tem a intenção de iniciar algum negócio próprio, o conteúdo deste post pode ser de valor.
Neste post eu foco em dois aspectos das ideias: 1) como elas podem potencializar suas habilidades e 2) como você pode usar algumas ferramentas/conceitos para ter e testar ideias.
Agregar habilidades complementares
Muito embora o sistema educacional convencional seja ultrapassado, é sempre possível extrair o melhor da experiência por conhecer novas pessoas e conhecer o ponto de vista delas sobre os assuntos apresentados, independente de se o ensino é público ou privado, superior ou médio. Ao longo de nossas vidas, em pequenas interações sociais, nós nos esbarramos com pessoas incríveis que podem ter tanto em comum conosco que nós nem imaginamos. Isso acontece no mundo profissional, quando vamos nos entreter com amigos, quando estamos fazendo alguma ação social, e até mesmo dentro de nossa própria família. Muitas vezes deixamos de valorizar esses pequenos momentos. Às vezes damos muito valor ao nosso próprio ponto de vista sobre as coisas e perdemos a chance de descobrir um mundo outrora inexplorado: a mente e as habilidades do outro.
Para agregar habilidades, três coisas podem ser destacadas [0][1]:
- Explore: Conheça os interesses das pessoas, as coisas sobre as quais elas falam podem dar grandes insights. Pergunte e entenda os problemas subjacentes às suas expressões.
- Exponha: Comente. Diga o que você sabe sobre o assunto, exponha sua experiência. Analise a reação das pessoas, identifique quais coisas você fala que agradam seu interlocutor, que geram boas reações. Continue refinando o como você expõe suas ideias.
- Se você tem a intenção de iniciar um negócio ou coletar investidores, a melhor forma é entender a reação deles sobre o como você apresenta sua ideia. Um bom termômetro é a reação das pessoas a apresentações que você faz, sejam em contextos informais, acadêmicos, ou corporativos.
- Equalize: Depois de identificados os pontos em comum, é hora de eliminar ou reduzir a incompatibilidade de experiências, ou seja, falar ao máximo sobre os que é de interesse comum para todas as partes envolvidas. Se você tem interesse numa pessoa, você deve conquistá-la por falar coisas sobre as quais você tenha interesse genuíno (não seja falso) e que a agradam. Dessa forma é possível que tanto você quanto o outro consigam expandir sua experiência sobre o assunto.
Os tipos de habilidades alcançadas depois desse processo podem ser financeiras, de comunicação, em tempo, em entusiasmo, em aprimoramento e refinamento de ideias, em motivação para nos fazer continuar, em inspiração, etc. Pessoas podem contribuir com você em uma infinidade de maneiras
A especialização é importante, mas é bom estar minimamente ciente das coisas acontecendo ao seu redor para que sua ação seja mais abrangente.
Fluxo constante de ideias
Uma das coisas que Irene destaca é “manter um fluxo constante de ideias”. Do meu ponto de vista isso se alinha muito com Design Thinking[2]. Recomendo, inclusive, fazer um curso gratuito online a respeito do assunto.
No Design Thinking, um dos focos na fase de criação de ideias é a quantidade de ideias em face da qualidade das ideias. Quanto mais ideias, mesmo que absurdas, mais fácil que elas variem e que possam se tornar mais maduras, mais viáveis. A tendência de julgar as ideias deve ser descartada.
Se for possível testar as ideias por gerar protótipos minimamente compreensíveis, isso pode dar mais força para as ideias. Um protótipo pode ser um simples desenho. Existem ferramentas online que permitem fazer protótipos de aplicativos de celular. Um exemplo é o Fluid UI (clique para ver).
Se estiver fazendo algo que exija uma modificação mais rápida, como um jogo, ou um sistema mais interativo, você pode tentar a prototipagem analógica ao invés de digital, usando peças de “Lego” , papel, cartolina, post-its, etc.. Use a criatividade. Algumas referências de prototipagem em papel (ou analógica) podem ser vistas no final deste post[3].
Novamente destaco o conceito de Flow. Quando iniciamos uma sessão de Brainstorm, onde todos os presentes estão cientes de que não devem julgar as ideias dos outros, e nem falar excessivamente mais do que outros, todos têm mais potencial de entrar na zona do Flow, de ficar tão envolvido no processo de gerar ideias que o tempo pode nem passar. Eles correm o risco de se tornar a experiência.
No momento em que estamos formatando nossas ideias, é importante não ter medo de listar ideias bluesky, aquelas que parecem ser as mais absurdas e impraticáveis. Se durante o desenvolvimento de um produto, seu cliente pedisse algo que “o ajudasse a chegar mais cedo nos lugares em que ele deve estar durante o dia para reuniões”, você poderia levantar ideias como “teletransporte instantâneo” ou “transporte dos prédios ao invés de transportar pessoas”; no fim, você poderia chegar à conclusão que o problema dele é a locomoção excessiva e que uma ferramenta de comunicação online poderia resolver grande parte de seus problemas.
Na hora de testar sua ideia (ou seu protótipo), você pode fazer quatro perguntas a ela, a fim de melhorá-la, são elas:
- O que funcionou?
- O que pode ser melhorado?
- Quais perguntas esse protótipo levanta?
- Quais novas ideias/insights são obtidos desse protótipo?
Como um exemplo, você pode consultar um dos materiais gerados quando participei do curso na NovoEd.
Materiais de apoio
Se você tem interesse em aumentar sua habilidade de absorver habilidades de outros, veja os seguintes materiais:
- O poder de escutar – excelente episódio em áudio (em inglês) do Tim Ferris Show sobre como pequenas perguntas que miram o coração e não a lógica podem revelar coisas profundas. Ele entrevista Call Fussman, autor e ícone que transformou a história oral numa forma de arte por conduzir grandes entrevistas. http://fourhourworkweek.com/2016/03/11/the-interview-master-cal-fussman-and-the-power-of-listening/
- Você versa ou conversa? – Um post que escrevi a respeito de pessoas que perdem a chance de contribuir numa conversa por falarem demais.
- Design Thinking Action Lab – Curso fornecido pelo laboratório de Design Thinking da Universidade de Stanford. PDF de apoio: link aqui.
- Prototipagem analógica. Exemplo usado para protótipo de jogo digital pode ser visto aqui, neste blog. Outra referência no Gamasutra .